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Coordenadores da Tree of Life na comunidade Sarayaku

Por: Maria Berbara, Carmen Fernández-Salvador, Patricia Zalamea

Conectar a fronteira amazônica: fluidez artística e cultural na primeira modernidade é um projeto que visa fortalecer redes de cooperação acadêmicas envolvendo pesquisadores nos estágios iniciais de suas carreiras. A história da arte sul-americana é ensinada e estudada, quase sempre, em termos de fronteiras nacionais; escolher a Amazônia como foco de pesquisa enfatiza a necessidade de conectar nossos países enquanto uma região compartida, repensando modos localistas de ensino. Nosso projeto é integralmente financiado pela iniciativa Connecting Art Histories, da Fundação Getty. 

A Amazônia faz fronteira com os três países que participam do projeto – Brasil, Colômbia e Equador – mas é também um espaço fluido que conecta a região. Ao ressaltar intercâmbios artístico-culturais, convergências e confrontos, assim como a mobilidade e circulação de artistas, técnicas, objetos artísticos e materiais, um estudo sustentável da Amazônia aparta-se de grandes centros artísticos e suas narrativas nacionais a favor de uma nova forma de interpretar a arte produzida na América Latina. 

Dessa maneira, colocamos em primeiro plano a ruralidade, assim como locais, objetos artísticos e hibridismos que foram, com frequência, marginalizados. Este projeto ganha particular relevância, na contemporaneidade, face às ameaças que um crescente extrativismo coloca ao meio-ambiente e aos povos originários da floresta amazônica. 

O projeto organiza-se em dois seminários, os quais têm, cada um, a duração de um ano. As atividades do primeiro ano, centrado no Equador, iniciaram-se em agosto de 2023 e serão completadas em julho de 2024. O segundo ano terá como base Belém do Pará, iniciando suas atividades em agosto de 2024 e terminado em julho de 2025. Os seminários incluem reuniões e palestras remotas mensais, assim como uma viagem de campo por ano. 

No primeiro ano, membros da equipe e um grupo selecionado de jovens pesquisadores e pesquisadoras provenientes do Brasil, Colômbia, Equador e Peru realizaram uma viagem imersiva de ônibus e canoa através da Amazônia equatoriana, onde visitaram, entre outros locais, o Museo Arqueológico y Centro Cultural de Orellana,  a Fundación Sacha Warmi e o ateliê artesanal de Macas. O grupo também alojou-se na Casa Kichwa da comunidade de Sarayaku, no rio Bobonaza.

Os posts reunidos neste blog reúnem algumas experiências coletadas ao longo desta viagem e refletem sobre as formas pelas quais essas experiências conectam-se aos projetos individuais dos participantes. 

Nós nos conhecemos em 2010 e, desde então, colaboramos em diversos projetos. Fomos apresentadas umas às outras pelo falecido historiador da arte estadunidense Rick Asher, que havia concebido a ideia de criar reuniões pequenas, de portas fechadas, imediatamente antes dos grandes encontros anuais promovidos pela CAA (College Art Association, dos Estados Unidos). Essas pré-conferências, as quais reuniam pesquisadoras e pesquisadores vivendo em países nos quais a história da arte é considerada uma disciplina emergente, visavam discutir colaborações sul-sul tanto no plano individual quanto institucional, assim como partilhar as dificuldades e desafios de trabalhar, em nosso campo, em zonas menos privilegiadas do mundo. Nós três participamos no piloto dessas pré-conferências, as quais foram generosamente financiadas pela Fundação Getty e que existem até hoje. 

Participamos, ainda, em um projeto anterior financiado pela Fundação Getty – “Desdobrando a História da Arte na América Latina” – o qual nos levou ao Rio, Buenos Aires, Cidade do México e Quito entre 2012 e 2015. Outras colaborações e parcerias incluem, entre outras, a conferência “The Italian Renaissance as seen from Latin America”, financiada pela Villa I Tatti – the Harvard Center for Italian Renaissance Studies e sediada na Universidad de Los Andes in 2012; “Spolia Sancta: Fragmentos y envolturas de sacralidad entre el Viejo y el Nuevo Mundo”, um projeto colaborativo sediado na Universidad Autónoma de Madrid entre 2016 and 2019, assim como dois seminários financiados pela Villa I Tatti em Florença e diversas publicações colaborativas, entre as quais, mais recentemente, o livro Sacrifice and Conversion in the Early Modern Atlantic World (Officina Libraria / Harvard University Press, 2022).

Trabalhamos no campo da história da arte e da cultura entre Europa e as Américas durante a primeira modernidade. Somos educadoras profundamente comprometidas com o fortalecimento de colaborações sul-sul que possam criar e sustentar o intercâmbio acadêmico entre jovens pesquisadoras e pesquisadores na nossa região. Os países que representamos neste projeto – Brasil, Colômbia e Equador – dividem fronteiras com a Amazônia, um lugar de encontro entre culturas indígenas, africanas e europeias. É um privilégio, para nós, poder colaborar neste projeto que reúne membros da geração mais jovem de pesquisadoras e pesquisadores no campo de estudos amazônicos e que, representando do futuro da nossa disciplina, constituirá, esperamos, redes acadêmicas duradouras e sustentáveis.

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